Fobia de voar

REVISTA SAÚDE E BEM ESTAR -FOBIA DE VOAR

FOBIA DE VOAR

NÃO CORTE AS ASAS À SUA CARREIRA

Milhares de pessoas, executivos, gestores e homens de negócios, partilham um segredo que nem sempre conseguem esconder: têm medo de viajar de avião. A American Management Association realizou recentemente um inquérito em que 13% das empresas inquiridas assumiram que o medo de viajar de avião afetava negativamente o seu negócio. Referiram ainda que profissionais competentes e de reconhecido mérito profissional se viam impedidos de evoluir na carreira devido ao medo de voar. Porém, saiba que existem em Portugal terapeutas altamente especializados no estudo, prevenção e tratamento da fobia de voo.

Estima-se que o medo de viajar de avião (ou aerofobia) é a segunda fobia mais comum, logo a seguir ao medo de falar em público. Um estudo realizado pela Boeing mostrou que entre 20 e 40% a população adulta tem medo de viajar de avião.

O que é a aerofobia?

As definições médicas mais correntes definem a aerofobia como um medo acentuado, persistente e excessivo que surge quando a pessoa vai viajar de avião ou quando é confrontada com a perspetiva de viajar de avião. A exposição a este estímulo fóbico provoca, quase sempre, uma reação de ansiedade – nalguns casos, pode atingir o ataque de pânico – que o indivíduo reconhece como desproporcionada e que produz um enorme transtorno e interferência na sua vida pessoal, profissional, social ou familiar.

O medo de voar pode ter diferentes graus de severidade: desde a ansiedade de voo ligeira até ao medo paralisante, com total incapacidade de entrar num avião. Tanto pode surgir em pessoas que nunca voaram na vida como nos passageiros aéreos mais frequentes.

Trata-se duma perturbação de ansiedade que, tal como todas as fobias, assenta em pensamentos e preocupações relativamente ao que pode vir a acontecer (ansiedade antecipatória) e não ao que realmente se está a passar.

Quando entra no avião, a imaginação fértil do aerofóbico transporta-o para cenários de hipotéticas catástrofes, onde tudo é visualizado até ao mais ínfimo detalhe, dando origem a níveis de ansiedade antecipatória muito elevados. “E se há um incêndio a bordo e não consigo sair?”, “e se o avião não tem força para descolar?”, “se o motor tem uma avaria ou explode?”, “e se eu tiver um ataque de pânico a bordo e quiser sair do avião?”.

O MEDO DE VOAR PODE TER DIFERENTES GRAUS DE SEVERIDADE: DESDE A ANSIEDADE DE VOO LIGEIRA ATÉ AO MEDO PARALISANTE, COM TOTAL INCAPACIDADE DE ENTRAR NUM AVIÃO

Como se manifesta?

Normalmente, a aerofobia é acompanhada por sintomas físicos e psicológicos que podem surgir no dia do voo ou, em casos mais graves, semanas ou meses antes da viagem. Perda de peso, nervosismo, insónias, irritabilidade, preocupação excessiva, sensação de falta de ar, tensão muscular ou evitar pensar na viagem, são alguns dos sintomas que podem surgir algumas semanas antes do voo.

O medo de voar começa a condicionar a vida das pessoas quando a irracionalidade domina a situação e a viagem passa a ser uma fonte de ansiedade e sofrimento, que a pessoa não controla.

No limite, o aerofóbico prefere ficar restringido aos meios de transporte terrestres, limitando a sua vida e a dos seus familiares. Deixa de fazer turismo, de participar em congressos, de ir a reuniões de trabalho importantes, de visitar familiares residentes no estrangeiro, desiste da lua de mel, recusa empregos ou promoções, tudo porque se sente incapaz de entrar num avião.

Medo de Voar

Quando tem mesmo de o fazer, a ansiedade e o desespero são de tal forma elevados que, antes de desistir por completo, a pessoa recorre a tudo o que estiver ao seu alcance para minimizar o sofrimento.

Álcool e tranquilizantes para diminuir o medo

Carlos, 36 anos, diretor comercial

Trabalho numa empresa do ramo automóvel e todos os meses tenho de ir a Paris, a uma reunião de diretores. No início, ia e vinha de avião no mesmo dia. Dava perfeitamente: é uma viagem rápida, tão rápida como ir de Lisboa ao Porto de carro. Aos poucos, sem saber porquê, o medo foi-se tornando mais e mais insuportável e tive de começar a tomar calmantes sempre que ia de viagem. De outra maneira, a não era capaz de embarcar… A questão é que cada vez me custa mais andar de avião e no último ano cheguei a tomar entre 4 a 10 comprimidos para conseguir fazer a viagem. Fora os whiskys que bebo a bordo… Quando lá chego, estou uma lástima, exausto e com uma enorme ressaca. Passei a ter de ir na véspera, porque o dia em que chego é passado no hotel a “recuperar” da viagem.

De acordo com um estudo realizado em 1997, pela Stanford University School of Medicine, 69% das pessoas com medo de viajar de avião ingerem álcool ou automedicam-se para tentarem reduzir o medo e tornar a viagem mais suportável. Para aqueles que têm medo de voar, pode ser muito grande a tentação de recorrer a substâncias que supostamente podem ajudar a aliviar o sofrimento associado à viagem.

O consumo de álcool pode produzir um efeito imediato de alívio, na medida em que a pessoa fica atordoada, conferindo uma falsa sensação de segurança e coragem. A pessoa prefere ir inebriada ou entorpecida pelo efeito do álcool do que sentir os efeitos do medo. Pedir uma bebida atrás de outra, na tentativa de combater o nervosismo e de se sentir mais autoconfiante, é algo que o passageiro ansioso faz com alguma frequência.

O problema é que, em pouco tempo, a pessoa deixa de ter controle sobre o comportamento e as emoções e isso pode acontecer muito rapidamente. A ingestão pode ser muito rápida, principalmente no aeroporto, onde pressionada pelo tempo, a pessoa bebe várias bebidas alcoólicas antes de embarcar. Por vezes, os efeitos do álcool só surgem depois de entrar no avião. Quando isso acontece, podem gerarse situações muito desagradáveis, tanto para o próprio como para a tripulação e os outros passageiros.

O “no-show”

Tiago, 32 anos, jornalista

Não tenho palavras para a vergonha que sinto: casámos em Julho e, de seguida, íamos para a tão desejada lua de mel. Dez dias nas Ilhas Seychelles! A minha mulher há muito que sonhava com esta viagem e eu nunca tive coragem de lhe dizer que tinha um medo horrível de voar. Quando reservámos os voos, senti um enorme aperto e andei nervoso durante uns dias, mas a vontade de satisfazer o desejo dela era superior e continuei sem dizer nada. Achei que este medo estúpido não podia estragar um momento tão bom das nossas vidas.

No dia do voo, fui até ao aeroporto. Transpirava, a camisa colava-se ao corpo e o meu coração estava a mil. Não queria que ela percebesse, mas o descontrole do meu corpo denunciava um medo insuportável. Já tonto e com as pernas a tremer, entrei no avião. Pouco tempo antes de tirarem a escada e fecharem a porta, levantei-me impulsivamente do assento e saí!.

Outro comportamento normalmente associado ao medo de voar é o que em aviação se designa por “no-show” (falta de comparência ao check-in ou embarque). São situações em que a pessoa comprou bilhete, tem tudo programado para a viagem, vai até ao aeroporto e, na hora de fazer o check-in (ou mesmo à porta do avião), o medo toma conta da situação e a pessoa desiste da viagem. Uma derrota e uma vergonha para quem, passados poucos minutos, cai na realidade e reconhece que a decisão de fugir foi comandada pelo medo e se culpabiliza por não ter sido capaz de o controlar.

Medo de Voar

Impacto na vida pessoal e profissional

Hoje, o avião é o meio de transporte mais económico para percorrer longas distâncias. Além disso, é o mais rápido e o mais seguro que existe. Compreende-se assim que a incapacidade para viajar de avião é uma condição que pode afetar de forma muito significativa a vida do indivíduo, quer a nível pessoal como a nível familiar e profissional. Na vida das empresas, o impacto deste problema pode ser expressivo.

Quantas viagens se adiam ou deixam de se fazer devido ao medo de voar? Quantas oportunidades de negócios internacionais se perdem? Reuniões a que não se comparece porque no último minuto faltou a coragem para embarcar no avião. Falta de comparência em congressos internacionais onde a sua empresa deveria estar representada. Viagens organizadas e pagas, canceladas à última da hora…

Pedro, 44 anos, engenheiro numa multinacional

Não depende de mim. Tenho quase a certeza que jamais conseguirei ultrapassar tamanho (e ridículo) obstáculo. Só de pensar em entrar para dentro de um avião, falta-me de imediato o ar. Reconheço que isso me impede de conhecer outros lugares, como também me impediu de poder tirar partido da proposta mais vantajosa que alguma vez virei a ter em questão de trabalho. Enfim, os humanos pensam… logo têm as suas fraquezas… Como acabámos de ver, o medo de voar é um quadro clínico que pode ter sérias implicações na vida do indivíduo. Há pessoas que declinam promoções no emprego só porque o novo trabalho implica estar presente em reuniões mensais num país estrangeiro, ao qual só é possível aceder de avião. Outros, ainda, pedem a demissão porque não aguentam continuar a trabalhar sob a pressão de, a qualquer momento, terem de fazer viagens de avião.

O que fazer para combater o medo de voar?

O primeiro passo para lidar com qualquer problema é reconhecer que ele existe. Ser capaz de assumir: “sim, tenho medo de voar e não quero continuar com a minha vida limitada, quero ser capaz de encarar a viagem de avião com naturalidade e sem preocupação”. Quem não assume que tem medo de voar não está disponível para resolver o problema. Pelo contrário, continua a forçarse a fazer viagens de avião na esperança de que o medo desapareça de forma mágica. Esta insistência em viajar sob o efeito do medo é geralmente contraproducente e o mais certo é agravar a situação. Voo após voo, o indivíduo vai consolidando e aumentando o medo, até que um dia, dominado pelo pânico, desiste completamente de voar. Uma vez assumido o problema, o segundo passo é procurar ajuda médica especializada. Os estudos demonstram que, se não for tratada, a fobia de voo tende a agravar-se com o decorrer do tempo. Pessoas que começam com uma ansiedade ligeira/moderada podem chegar a um ponto de total incapacidade para viajar de avião, se não fizerem nada para travar o desenvolvimento da fobia. Dependendo do grau de severidade da fobia de voo, existem técnicas de tratamento muitíssimo eficazes, nomeadamente as técnicas cognitivo-comportamentais, cujas taxas de sucesso se situam acima dos 95 por cento.

O principal objetivo do tratamento é preparar as pessoas para viajarem de avião de forma despreocupada e com confiança, fornecendo-lhes informação sobre aspetos técnicos da aviação e munindo-as com ferramentas que, após um treino adequado, lhes permitirão controlar e dominar a ansiedade que sentem. 

DEPENDENDO DO GRAU DE SEVERIDADE DA FOBIA DE VOO, EXISTEM TÉCNICAS DE TRATAMENTO MUITÍSSIMO EFICAZES, CUJAS TAXAS DE SUCESSO SE SITUAM ACIMA DOS 95 POR CENTO

NOTA: Por uma questão de confidencialidade, os nomes mencionados nos testemunhos são fictícios.

DICAS PARA PREVENIR A ANSIEDADE DE VOO

  • Existem alguns truques simples que podem ser colocados em prática para diminuir a ansiedade de voo:
  • Na véspera do voo diminua o consumo de café e açúcar.
  • Evite bebidas alcoólicas e beba muita água.
  • Organize-se e prepare tudo com antecedência.
  • Não deixe tarefas para a última hora. 4Garanta um bom sono na noite anterior ao voo.
  • No dia do voo, levante-se assim que o despertador tocar.
  • Tome o seu duche relaxadamente, seguido de um pequeno-almoço ligeiro.
  • Evite sumo de laranja (ou outras bebidas ácidas) e o café. Beba água.
  • Procure fazer tudo num ritmo calmo e pausado.
  • Saia de casa com tempo, de forma a chegar ao aeroporto com a calma e antecedência necessárias.
  • Depois de fazer o check-in, passeie calmamente pelas lojas e boutiques do aeroporto.
  • Se encontrar uma revista interessante, compre-a.
  • Esteja atento à hora de embarque, de forma a não chegar atrasado à sala de embarque.
  • Uma vez lá, sente-se, relaxe e dê uma olhadela às revistas que comprou.
  • Se preferir, observe a chegada e partida dos aviões.
  • Observe também o movimento das pessoas.
  • Vá preparado para lidar com os atrasos.
  • Pense: “não posso fazer nada, não depende de mim, quando chegar cheguei”.
  • Durante o voo, vá entretido e desfrute o melhor possível do tempo que vai permanecer dentro do avião.
  • Pense que se for ocupado e distraído com tarefas que lhe preenchem a mente, o tempo passa mais depressa.
  • Leve consigo um bom livro ou uma revista.
  • Mantenha o seu pensamento no presente. S
  • e começarem a surgir pensamentos negativos, não os alimente. Interrompa a corrente do pensamento e dedique-se a fazer alguma coisa que o distraia.

Transcrição de Entrevista dada a Revista Saúde e Bem Estar na Edição de Outubro de 2013